quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Máscara

Entre os seus projetos de vida estava o plano de falar cinco idiomas até os trinta anos (trinta e cinco, talvez), e visitar todos os países que o encantavam. Era um sonhador. Era impossivel conversar com ele e não ficar embreagada com as suas palavras, os seus sonhos e devaneios, as suas alucinações sobre a realidade e pessoas que talvez nem existam. Era um mentiroso também, mas fazia parte daquela persona.

Passei a pensar que sem certas máscaras não seríamos nada. Ele ostentava desavergonhadamente as suas máscaras, sem pudores de dizer algo e se desmentir minutos após. Achei aquilo incrível, "um grande demagogo", pensei. Mas fazia parte daquela persona.

Cada máscara que caía trazia à tona uma nova que eu tinha anseio por ver. A conversa só ficava melhor a cada mentira que ele contava sobre suas peripécias pelo mundo afora e pelas quantas mulheres que conheceu, sem talvez nunca ter amado uma única sequer. Eu ouvi atentamente.

Até que o telefone tocou. Uma interrupção, que droga! Mas que nada! Melhor que ouvi-lo dirigindo-se a mim era ouvi-lo dirigindo-se a um estranho, combinando mais uma aventura para aquele dia. Como podia a vida de alguém ser assim? Ele não podia só escolher um final de semana e ficar em casa ou pedir uma pizza? Não, ele se entediaria muito fácil. Era um aventureiro, precisava de cachoeiras, aviões, escaladas e vento nos cabelos. Que máscara! O mais inacreditável de tudo isso é que ele ostentava a máscara como se daquele "ego" dependesse o seu Self.

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